TV NordesteVIP Entrevista Octávio Nassur: da “Dança dos Famosos” para Fortaleza
O consagrado diretor e coreógrafo é conhecido por ser jurado do quadro Dança dos Famosos na Globo. É estará ministrando curso no evento Festival Internacional do Conselho Brasileiro da Dança.
Por Bruno Barreto
Design de experiências artísticas e idealizador do FIH2 Festival Internacional de Hip Hop, o curitibano Octávio Nassur faz eventos na área da cultura há 28 anos. Sim, você conhece ele como jurado do quadro “Dança dos Famosos”, na TV Globo. Octávio é um dos mestres convidados do Festival Internacional do Conselho Brasileiro da Dança (CBDD) em Fortaleza, evento que acontecerá nos dias 4 e 5 de maio no Cineteatro São Luiz e no Teatro Rio Mar, de 6 a 8 do mês que vem.
Nassur é, Coordenador Nacional do MBA em Dança – Gestão e produção cultural – da faculdade Inspirar em Curitiba. Palestrante convidado pelo TEDX e inúmeras empresas, é também preparador de palestrantes como Leo Chaves, Murilo Rosa e Roberto Santana. Autor do livro Culinária Coreográfica – Desmedidas de receitas para iniciantes na cozinha cênica, ele dirige a Dance Concept Brasil desde 1998. Em entrevista para a TV Nordeste VIP, o consagrado diretor e coreógrafo fala sobre como surgiu o interesse pela dança, o preconceito contra o Hip Hop, sua participação na sexta edição do Festival do CBDD Fortaleza e o futuro das danças urbanas.
Confira o Bate Papo!
TV NORDESTE VIP – É verdade que você começou a fazer aulas de dança por causa de uma paixão adolescente? Fale um pouco do início da sua carreira, e do seu interesse pela dança.
OCTÁVIO NASSUR – Sim, é verdade. Eu tinha 13 anos, fazia musculação em uma academia quando vi uma menina linda (imagino ela ter uns 11 anos) passando em uma parede de vidro lateral a que eu estava.
Comecei a acompanhar e toda terça e quinta ela entrava em uma porta na academia as 15h horas e as 16h ia embora direto. Eu pensei, preciso entrar nessa porta para poder falar com ela. Na semana seguinte me inscrevi na tal porta e quando me dei conta, entro numa sala de ginástica aeróbica com umas 30 mulheres e eu. Não entendia muito o que estava acontecendo ali, mas como eu estava apaixonado e perto da minha “amada” , eu seguia o fluxo.
Foi quando eu pensei: preciso ficar bom nisso para chamar a atenção dela, então comecei a fazer 3, 4, 5 aulas por dia. Depois de 3 meses e ainda com vergonha de dar oi para ela, fiquei sabendo que ela tinha saído da academia e eu não sabia ainda nem seu nome. Foi então que me dei conta que não fiquei triste, pois continuava toda terça e quinta acordando muito feliz na certeza que eram os melhores dias da semana…. E sabe por que? Porque tinha aula de aeróbica com o professor Rhony.
O cara era sensacional. Uma energia tão contagiante que transbordava em todo mundo. Eu sempre pensava: quero ser esse cara, quero fazer isso, quero que as pessoas: sintam o que estou sentindo. E aqui começa minha história, quando aos 14 anos Rhony (atual coreografo da delegação brasileira de ginástica artística, coreógrafo da Daiane dos Santos – Brasileirinho, e Rebeca Andrade com Baile de favela – ambas ouro olímpico), viaja muito para mundiais e me pedia para substituí-lo em suas aulas de aeróbica. Minha preocupação nao era o que ensinar, mas fazer com que as pessoas sentissem o que eu senti na minha primeira aula.
Depois de ter uma grade de aulas cheia e querendo impactar mais pessoas, resolvi ter um grupo de dança, porque eu queria impactar em maior escala, então montei o primeiro grupo feminino do pais de Danças urbanas, o Street Heartbeat, pois assim poderíamos viajar o pais e o mundo fazendo com que mais pessoas sentirem o que eu senti na minha primeira aula de aeróbica. Passado anos, abri minha escola de dança com 11 grupos de dança de vários estilos com o mesmo pensamento…
Em 2002 criei o FIH2 – Festival Internacional de Hip Hop pensando que poderia ter então muitos grupos reunidos em um único lugar para que o público fosse contagiado com a energia. Por fim, montei o primeiro MBA em Dança do Brasil – Gestão e Produção Cultural na Faculdade para que produtores pudessem produzir melhores eventos e assim impactar mais pessoas. Hoje sou design de experiência atendendo empresas como Volvo, Boticário, Renault entre muitas outras com sensibilizações artísticas fazendo sabe o que? Que as pessoas sintam o que eu senti quando eu tinha 13 anos (risos). Simples assim.
TV NORDESTE VIP – Idealizador do FIH2 Festival Internacional de Hip Hop, você será o responsável pelo intercâmbio deste evento com o Festival Internacional de Dança do CBDD. Me fale um pouco sobre o FIH2, seu envolvimento com as danças urbanas no Brasil e como será sua participação no Festival CBDD 2022?
OCTÁVIO NASSUR – O FIH2 nasceu da indignação de modelos de Festivais no Brasil enquanto a manipulação de resultados e experiência dos grupos e plateia. Meu avô sempre dizia que nós, temos no mínimo 2 alternativas para todos os acontecimentos da vida:
- Reclamar
- Fazer algo para resolver.
Seguindo esse princípio, criamos um evento com comentários gravados em tempo real entregando para os grupos mais conteúdo para evolução dos seus trabalhos, notas divulgadas no telão após cada apresentação com extrema idoneidade, os maiores professores do mundo julgando e ministrando cursos, no maior teatro do sul do pais, com capacidade para 2400 pessoas além da Cidade da Dança, um espaço de experiências com mais de 5 mil metros quadrados. Com o CBDD o namoro já é de longa data e o respeito e admiração mútua fizeram com que essa parceria fosse concretizada abrindo novas e maiores possibilidades para os grupos do nordeste.
TV NORDESTE VIP – É verdade que você está no livro Guiness de recordes, depois de lecionar 27 aulas de Street Dance em 27 horas. Passaram esse recorde? Como foi esse desafio?
OCTÁVIO NASSUR – Essa foi boa né? Não, ainda não passaram esse recorde.
Ele aconteceu em Joinville, durante o festival em 2001. Nasceu de uma brincadeira com meu grupo de dança, quando eu dizia nos ensaios que a cabeça comanda o corpo. Sabendo como trabalhar o modelo mental, melhores resultados poderiam ser alcançados. Eu sempre fui um curioso e estudioso de PNL (programação neuro linguística) e precisava comprovar a teoria com a participação do meu grupo. Esse desafio não foi só meu, mas de todas que fizeram quase todas as aulas comigo.
Foi divertido ver grupos e mais grupos chegando na madrugada para fazer aulas e dar apoio. Penso que movimentos assim integram mais todos.
TV NORDESTE VIP – Participando desde 2013 como jurado técnico em diversas edições do “Dança dos Famosos” da Rede Globo, qual a importância de quadros como esse para a dança no Brasil? Como é julgar os artistas? Existe muita pressão dos fãs? Houve alguma nota que você deu e tenha se arrependido?
OCTÁVIO NASSUR – Adoro qualquer ação que faça com que a dança chegue onde não chegaríamos por ações próprias. Gosto da possibilidade de pensar que entramos nas casas das pessoas e que alguém, em algum lugar vai ser tocado pelo desejo e procurar uma escola de dança em sua cidade. Julgar artistas nunca foi problema, continuo com o mesmo olhar para qual fui solicitado, com o pensamento que preciso orientar e contribuir de todas as maneiras para o indivíduo e programa aproveitando e melhorando a percepção do público com explicações que refinem os olhares de todos. Nunca me arrependi de nenhuma nota dada não apenas na Tv mas em todo e qualquer festival que participei.
TV NORDESTE VIP – Empreendedor cultural, você irá ministrar a oficina de Gestão de Carreira e Alta Performance, dia 7 de maio, na Escola de Dança Janne Ruth em Fortaleza. Como será esse curso?
OCTÁVIO NASSUR – Certamente um curso disruptivo e que todos que trabalham ou pensam em atuar profissionalmente com Arte precisariam fazer. Verdades são ditas, mostradas, referidas e ferramentas apresentadas. Espectros sobre as possibilidades profissionais são ampliados e as maneiras de remuneração para sustentabilidade econômica também.
Gostaria muito que os artistas tivessem menos medo de falar de dinheiro em relação à “arte” e que pensassem mais profissionalmente na relação financeira.
O conceito de economia criativa é definido pelo conjunto de negócios baseados no capital intelectual e na criatividade, os quais geram valor econômico. É sobre isso esse curso, como aprender a gerar valor econômico e percepção de valor para a sociedade a fim de que ela pague e possamos depender cada vez menos de incentivos fiscais.
TV NORDESTE VIP – Qual o futuro das danças urbanas no Brasil? Você fez trabalhos como coreógrafo da Delegação Brasileira de Hip Hop. Ainda existe muito preconceito com esse gênero da dança?
OCTÁVIO NASSUR – Não consigo prever o futuro mas posso garantir que trabalho 24h por dia para que os modelos, qualidade e economia evoluam em sincronia. Ainda existe muito preconceito no Brasil. Hip Hop é muito associado ao assistencialismo, consequentemente, as pessoas entendem que é de graça. Nosso trabalho tem sido em aumentar a percepção de valor na sociedade e mudar o modelo para uma economia sustentável.