Animação em 2D é produzida em Meruoca
O processo de produção é totalmente digital, mas a história
valoriza as tradições, a natureza e a cultura popular nordestina
Em atividade desde 2020, a Narrativa Entretenimento movimenta a economia criativa, mais especificamente a cadeia produtiva do audiovisual, no interior do Ceará. Com cinco obras em seu portfólio, a produtora do município de Meruoca se lança em um novo desafio: o longa-metragem de animação em 2D intitulado “Um Natal no Sertão”. Utilizando as novas tecnologias, o filme conta uma história que valoriza a riqueza natural e cultural cearense.
Iniciada em agosto de 2024 e com previsão de estreia em 2026, a produção envolve cerca de 40 profissionais – incluindo Fortaleza, Meruoca e Barbalha, sendo a maioria do interior cearense. “O projeto é uma animação 2D, no estilo cut-out, uma técnica de recortes de peças onde os personagens são criados virtualmente e manipulados feito puppets dentro do programa. É um estilo de animação totalmente digital, bem diferente dos clássicos filmes de animação, que eram feitos a lápis e papel”, explica o diretor do filme, Augusto César.
Em produção desde agosto de 2024, a animação se estrutura sobre um eixo narrativo universal: o amadurecimento. Conta a história de Cidinha, uma menina que enfrenta seus próprios medos e desafios para concretizar um desejo simples, mas carregado de afeto e simbolismo: passar o Natal ao lado da avó.
“O próprio cenário do filme já se impõe como um elemento narrativo marcante: a caatinga. Não a caatinga estereotipada que se cristalizou no imaginário do Sudeste – um sertão árido, de terra esturricada e carcaças de gado presas a cercas enferrujadas; mas sim a caatinga no esplendor do seu ciclo chuvoso. É nesse período, coincidente com as celebrações natalinas, que a vegetação renasce em tons de verde exuberante, compondo um pano de fundo singular para a jornada da protagonista”, descreve o diretor.
Ele explica que, ao longo da trama, os elementos da cultura nordestina vão se entrelaçando à narrativa: o brinquedo predileto de Cidinha, a protagonista, é o pião; seu companheiro inseparável de aventuras é o jumentinho Lulu; e durante a sua saga, ela se depara com a travessa dupla Lucy e Rone, pequenos saguis – ou “soins”, como são conhecidos pelos cearenses – que se tornam aliados em sua viagem.
Audiovisual e valorização da cultura popular
A ideia para produzir “Um Natal no Sertão” surgiu do olhar atento do diretor sobre os catálogos de filmes natalinos disponíveis nas principais plataformas de streaming e circuitos cinematográficos recentes. “É claro que predominam produções ancoradas em estéticas e narrativas estrangeiras. São escassas as histórias que traduzem a vivência brasileira e ainda mais raras as que mergulham na riqueza cultural do Nordeste”, ressalta.
Por acreditar que as produções audiovisuais contemporâneas desempenham um papel essencial na preservação e valorização das tradições culturais, “funcionando como pontes entre o passado, o presente e até o futuro”, a Narrativa Filmes investe na temática, tendo em seu portfólio um longa-metragem sobre as Mestras da Cultura do Ceará.
“A cultura popular ocupa uma posição central em nosso trabalho. Com sua riqueza cultural singular, o nosso Estado se revela um terreno fértil para narrativas que exaltam manifestações tradicionais, como os reisados, as dramistas, rezadeiras e parteiras. Sempre que dispomos dos meios necessários, nos dedicamos a explorar e registrar esse vasto universo, contribuindo para a valorização e a preservação dessas expressões”, diz Felipe Brandão, gerente de produção do projeto. “Um Natal no Sertão”, por exemplo, está sendo desenvolvido com financiamento da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult), por meio da Lei Paulo Gustavo.
Para os produtores do filme, George Alex e Augusto César, as políticas públicas da cultura e do audiovisual são fundamentais no sentido de descentralizar a produção para além do eixo Rio-São Paulo, além de viabilizar projetos fora do circuito comercial e promover a diversidade.
“O Ceará é marcado por uma riqueza cultural diversa. Porém, muitas vezes, suas produções cinematográficas são suprimidas nos espaços de distribuição frente a grandes produções comerciais. Trazer à tela narrativas que revivem tradições é um ato de resistência e afirmação identitária, transformando costumes locais em experiências universais e permitindo que histórias enraizadas em determinada comunidade encontrem ressonância em públicos distintos”, destaca Augusto.