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Bares e restaurantes têm volta do movimento, mas sofrem com dívidas e inflação

No Ceará, 48% dizem ter feito reajustes no cardápio, mas abaixo da inflação

Dívidas acumuladas e o fantasma da inflação trazem preocupação ao setor de alimentação fora do lar. É o que mostra o mais recente levantamento da Abrasel, que consultou 1.689 empresários de todo o país. O movimento de retomada está se consolidando, com 35% dos bares e restaurantes dizendo ter trabalhado com lucro em maio, contra 29% que realizaram prejuízo. Outros 36% ficaram em equilíbrio. Os números ficaram estáveis em relação ao último levantamento, que trouxe o resultado de abril, quando 35% tiveram lucro e 28%, prejuízo. No Ceará, 39% tiveram lucro em maio e 29% trabalharam com prejuízo. Outros 32% ficaram em equilíbrio. 

A inflação é o principal obstáculo para uma retomada mais rápida; 75% dos que tiveram prejuízo citaram o aumento dos principais insumos (alimentos e bebidas) como um fator que contribuiu para o resultado negativo. Entre os outros principais fatores citados estão queda nas vendas (63%), redução no número de clientes (58%), dívidas com empréstimos bancários (54%) e dívidas com impostos (49%). No geral, 45% dos respondentes dizem ter feito reajustes, mas abaixo da inflação oficial. Outros 29% não conseguiram reajustar o cardápio. 23% reajustaram somente para acompanhar a inflação e somente 3% dizem ter feito reajuste acima da inflação. O recorte dos respondentes no Ceará mostrou que 73% não conseguem repassar aumento de custos, 48% dizem ter feito reajustes, mas abaixo da inflação oficial; e outros 25% não conseguiram reajustar o cardápio. Por fim, 24% reajustaram somente para acompanhar a inflação e 2% dizem ter feito reajuste acima da inflação. 

“Se juntarmos quem não reajustou com quem fez reajustes abaixo da inflação, são 3 em cada 4 estabelecimentos (74%) que não conseguem repassar o aumento dos custos. Isso explica por que, em nosso setor, a inflação dos últimos 12 meses ter sido praticamente a metade da inflação média no país. Por um lado, isso torna mais atrativo comer fora de casa. Mas coloca em risco milhares de negócios que lutam para se recuperar dos prejuízos acumulados”, diz o presidente-executivo da Abrasel, Paulo Solmucci.

Taiene Righetto, presidente da Abrasel no Ceará, complementa: “essa pesquisa esclarece e mostra a realidade dos bares e restaurantes, setor que mais emprega nesse país, e que se mostra ameaçado em conseguir fazer a geração de emprego tão necessária nesse momento de pós-pandemia. Os números mostram que o aumento de faturamento não é sustentável, porque a conta que o setor pagou na pandemia continua chegando. O empreendedor do nosso setor não recebeu nenhuma ajuda e acabou se endividando, como confirma a pesquisa”.  

Além da inflação, as dívidas também influem no resultado dos estabelecimentos. A grande maioria (69%) têm dívidas bancárias. E um número chama a atenção: 13,6% do custo mensal, em média, estão comprometidos com o pagamento dos empréstimos. Dos que tomaram dinheiro, 67% usaram linhas regulares dos bancos e 59% fizeram empréstimo via Pronampe; muitos negócios usaram os dois recursos. Dos que pegaram empréstimo de linhas regulares, 26% têm parcelas em atraso, contra 13% que estão em atraso com parcelas do Pronampe.

Entre os cearenses, 69% têm empréstimos contratados; 75,8% tomaram dinheiro de linhas regulares dos bancos e 53% fizeram empréstimo via Pronampe. Dentre os que pegaram empréstimo de linhas regulares, 24% têm parcelas em atraso, contra 14% que estão em atraso com parcelas do Pronampe. Ainda, 12,65% do custo mensal, e média, estão comprometidos com o pagamento de dívidas bancárias. 

“Outro número muito importante é que quase 50% desses empreendedores, que são optantes do SIMPLES Nacional, até por serem pequenos, estão em atrasos com esses impostos, e se perder essa condição de Simples, terão que pagar um imposto enorme, significando a falência para muitos”, diz Righetto.  

Impostos

Os débitos com impostos também se acumulam; 42% dos bares e restaurantes enquadrados no Simples Nacional estão com o imposto atrasado (eles representam 83% dos respondentes). Entre os que estão em atraso, 53% já aderiram ao Relp (programa de reescalonamento de dívidas do programa). O Perse, programa para reerguer o setor de eventos, mas que também engloba alguns tipos de bares e restaurantes, tem pouca penetração, em função do desconhecimento e das restrições. 

“Outro programa que poderia ser importante neste resgate do setor ainda não traz muito alívio. Cerca de 23% das empresas estão inscritas no Cadastur. Entre as que estão inscritas e têm débitos na dívida ativa, somente 16% aderiram ao Perse. E 39% disseram desconhecer o programa. Precisamos derrubar essas barreiras à adesão e deixar os critérios mais simples e mais abrangentes, pois o setor precisa de muita ajuda”, afirma Solmucci.