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Campanha Natal Sem Fome 2020 será lançada neste domingo (18), no Aterrinho da Praia de Iracema

O Brasil está na iminência de voltar a integrar o Mapa da Fome, relação de países que possuem mais de 5% da população em insegurança alimentar grave. O país deixou a lista em 2014.

A crise socioeconômica causada pela pandemia do novo coronavírus agravou o problema da insegurança alimentar para as populações mais pobres do País. Atenta a essa situação, a Campanha Natal Sem Fome será lançada no próximo domingo (18), às 8 horas, com uma ação de conscientização a ser realizada no Aterrinho da Praia de Iracema, em frente à Estátua Iracema Guardiã. Ao lado de uma ampla faixa com os dizeres Natal sem Fome, as pessoas que passarem pelo local serão sensibilizadas para a problemática da fome e convidadas a doar alimentos ou dinheiro para compra de cestas básicas que ajudarão a enfrentar a situação. A iniciativa terá lançamentos em vários estados do país no mesmo dia.

A Campanha Natal sem Fome é promovida anualmente desde 1993,  articulada nacionalmente pela ONG Ação da Cidadania e desenvolvida no Ceará pelo Instituto Nordeste Cidadania (Inec). Além de arrecadar alimentos não perecíveis para a população em situação de vulnerabilidade social, a edição deste ano pretende ainda conscientizar e orientar a sociedade sobre o direito a uma alimentação saudável e à segurança alimentar e nutricional, bem como fortalecer a rede Ação da Cidadania e resgatar a história e os valores do sociólogo Herbert de Souza (Betinho), idealizador da Campanha.

Em âmbito nacional a ação conta com a parceria de duas agências da ONU, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA). Organizações e empresas como Ifood, AME, Mastercard, Lojas Americanas, Camil, Rede de Shoppings Ancar Ivanhoe, Fiocruz e CBF também participarão nacionalmente de toda a Campanha. No Ceará a iniciativa conta, ainda, com a parceria da Ticket, Camed Corretora, Defesa Civil do Ceará, Movimento ODS Ceará e Conselhos de Segurança Alimentar e Nutricional (Conseas) do Ceará e de Fortaleza.

Doações

A meta de arrecadação para o Ceará é de 36,7 toneladas de alimentos. Para o Inec, cuja atuação abrange toda a região Nordeste e norte de Minas Gerais e Espírito Santo, a meta é arrecadar 120 toneladas. Qualquer pessoa pode participar individualmente ou com a arrecadação e doação em grupos. Empresas podem também fazer suas doações. Os interessados podem acessar www.inec.org.br/natalsemfome ou www.natalsemfome.org.br e contribuir com qualquer valor, que será revertido para compra de cestas básicas. Doações de gêneros alimentícios não perecíveis podem ser entregues até o dia 18 de dezembro, na Sede do Inec, localizada na Av. Dr. Silas Munguba, 3500, bairro Itaperi.

No ano passado, a Campanha arrecadou 941.706 quilos de alimentos nacionalmente. No Ceará, mais de 40 instituições e aproximadamente 1.700 famílias foram beneficiadas.

Conscientização

Até o final da campanha, o Inec também promoverá uma série de lives no Instagram, com temas associados à segurança alimentar, nutrição, cultivo de hortas urbanas, entre outros. No dia 10 de novembro, será realizada uma transmissão especial no canal do Inec no Youtube (https://www.youtube.com/user/CanalINEC), com o objetivo de estimular a doação em dinheiro e envolver colaboradores, parceiros e público beneficiário.

Sobre a fome no Brasil

Segundo O Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo 2020 (SOFI), relatório anual sobre a fome no mundo desenvolvido pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), em 2019, quase 690 milhões de pessoas (8,9% da população mundial) passaram fome, ou seja, cerca de 10 milhões a mais que em 2018. Desse total, 47,7 milhões de pessoas estavam na América Latina e no Caribe. De acordo com as projeções do estudo, com a pandemia, mais 132 milhões de pessoas devem ser lançadas para a situação de fome crônica até o final deste ano.

O estudo alerta que o mundo corre o risco de não atingir mais o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) número 2 da Agenda 2030, referente à fome zero. O compromisso com a erradicação da fome foi assumido por diversos países na 70º Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro de 2015. Na ocasião, foi estabelecida a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade. Para tanto, foram anunciados 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O segundo ODS propõe acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Porém, os números atuais mostram que esse objetivo está ainda mais distante de acontecer.

No Brasil, de 2016 a 2019, a população afetada pela insegurança alimentar moderada e aguda aumentou de 37,5 milhões para 43,1 milhões, ainda segundo o relatório. Contudo, esses números ainda não consideram os impactos socioeconômicos da crise do novo coronavírus, o que pode torná-los ainda mais alarmantes. Além de o Brasil estar na iminência de voltar a figurar entre os países presentes no Mapa da Fome, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciados em setembro, mais de 80 milhões de brasileiros vivem com algum grau de insegurança alimentar, e mais da metade dos domicílios no Brasil com insegurança alimentar são chefiados por mulheres.

O IBGE apontou ainda que lares chefiados por mulheres e negros passam mais fome e que mais da metade dos domicílios do Norte e Nordeste estão em insegurança alimentar. O Brasil ainda deve alcançar a marca negativa de 14,7 milhões de pessoas vivendo na extrema pobreza, o que corresponde a 7% da população, até o fim de 2020, segundo o Banco Mundial.


Mapa da Fome

O Mapa da Fome é uma publicação da ONU que apresenta a relação de países que possuem mais de 5% da população total em situação de subnutrição. Para a ONU, por “subnutrição” entende-se a condição em que se encontra uma pessoa cujo consumo habitual de alimentos não é suficiente para lhe fornecer a energia dietética de que necessita para levar uma vida normal, ativa e saudável. Segundo o IBGE, o Brasil já estava, em 2018, com 5% (ou 10,3 milhões) da população total no nível de Insegurança Alimentar Grave, o que significa que houve ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores do domicílio, incluindo, quando presentes, as crianças.

Sobre a Ação da Cidadania

A Ação da Cidadania foi fundada em 1993 pelo sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho, com o intuito de combater a fome e a desigualdade socioeconômica em nosso país e ajudar os mais de 32 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha da pobreza naquele ano. Desde sua criação, a ONG deu início a uma série de iniciativas, sendo o Natal Sem Fome a mais célebre delas. Após dez anos sem ser realizada, a campanha voltou em 2017 e, em 2020, ganhou força total para ajudar os agora dezenas de milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza, segundo dados do Cadastro Único do Governo Federal.