Documentário cearense A JANGADA DE WELLES estreia quinta-feira (23)
Longa-metragem dirigido pelos cearenses Firmino Holanda e Petrus Cariry revisita a passagem de Orson Welles por Fortaleza, que completa 80 anos em 2022.
Orson Welles durante as gravações do documentário It’s All True
(Créditos: Divulgação/Chico Albuquerque)
Após ser exibido em mais de 20 festivais de cinema em 10 países, o longa-metragem cearense A JANGADA DE WELLES entrará em circuito nacional a partir do dia 23 de junho. O documentário, dirigido por Firmino Holanda e Petrus Cariry, retorna à fascinante experiência de Orson Welles no Brasil durante a gravação de “It’s All True”, especificamente a passagem do cineasta pela praia de Iracema e dunas do Mucuripe, em Fortaleza (CE), em junho de 1942. As filmagens, também lembradas pela trágica morte do jangadeiro cearense Manuel Jacaré, no Rio de Janeiro, se estenderiam pelo mês de julho na capital cearense, com imagens ainda sendo posteriormente registradas em Recife e Salvador.
Firmino Holanda, pesquisador e autor do livro Orson Welles no Ceará (Edições Demócrito Rocha, 2001), afirma que Welles, antes filmar em Fortaleza, já contava com as imagens cariocas que recriavam a chegada da jangada “São Pedro” ao Rio de Janeiro, tripulada por Manuel Jacaré, Jerônimo, Tatá e Manuel Preto. Este fato histórico ocorrera no ano anterior, em 15 de novembro de 1941, depois de 61 dias de travessia pelo mar Atlântico. A viagem, que chamou atenção de Welles, através da revista norte-americana “Time”, pela determinação dos envolvidos, os levou até o presidente Getúlio Vargas, para apresentar-lhe reivindicações trabalhistas da classe.
Vindo ao Brasil para registrar um segmento sobre carnaval carioca, Welles decidiu encontrar e filmar esses jangadeiros, criando um outro episódio para o longa “It’s all true”. Neste, a comunidade de pescadores, em Fortaleza, colaborou com a produção, fornecendo intérpretes principais e figurantes, engajando-se no movimento encabeçado pelo cineasta americano. “Em 19 de maio de 1942, durante os trabalhos no Rio de Janeiro, então capital do Brasil, um acidente tirou a vida de Jacaré, que sumiu nas águas do mar. Welles, que muito o admirava, sentiu-se mais ainda obrigado a concluir seu episódio, isto quando os produtores já demonstravam desinteresse pelo projeto ‘It’s All True’, de modo geral. Isidro, irmão do desaparecido herói jangadeiro, o substituiu discretamente nas imagens feitas no Ceará, a partir de junho de 1942, atuando ao lado de Manuel Preto, Tatá e Jerônimo”, lembra o diretor.
Holanda ainda ressalta que a equipe de Welles veio a Fortaleza bastante reduzida, formada pelo assistente Richard Wilson, sua esposa Elizabeth Wilson e a secretária Shifra Haran. Técnicos ligados à produtora carioca Cinédia, que cedeu a câmera principal utilizada, também participaram, sendo estes o diretor de fotografia George Fanto, seu assistente Reginaldo Calmon e Roberto Cavalieri, responsável pelo som guia. “A gravação ainda contou com o apoio da Aba Film, empresa de Adhemar Bezerra Albuquerque, pioneiro do cinema cearense, que emprestou uma outra câmera para o filme, mais leve, que posteriormente se perderia no mar. Juntaram-se também ao grupo visitante o fotógrafo still Chico Albuquerque e a educadora Aída Balaio, que colaborou nos contatos no Mucuripe e na tradução, para que Welles se comunicasse com os intérpretes locais”, continua.
Essa não é a primeira vez que Holanda e Cariry se debruçam na coleta de depoimentos e de imagens de arquivo para falar sobre a jornada de Welles no Brasil. Em 2005, os dois dirigiram o média-metragem para a televisão “Cidadão Jacaré”, projeto do Programa de Fomento à Produção e Teledifusão do Documentário Brasileiro (DOCTV). Para Cariry, esse passo inicial foi muito importante não apenas para se conectar com os registros históricos sobre Welles no Brasil, mas também na parceria que seria construída com Holanda.
“Desde então, passamos a trabalhar juntos em diversos projetos dirigidos por mim, tanto de curta quanto de longa-metragem, em que ele colabora e assina também como roteirista e montador de vários deles. Poder ampliar a nossa visão sobre Welles no Ceará em A JANGADA DE WELLES foi mais um desafio para o nosso trabalho em dupla, um esforço de pesquisa imenso para tentar mergulhar nessa história com a ajuda de estudiosos, intelectuais, participantes originais das filmagens e parentes do próprio Jacaré”, finaliza Cariry.
SINOPSE OFICIAL
Em 1942, Orson Welles filmava no Brasil o documentário It’s All True (É Tudo Verdade), sobre o carnaval carioca e os jangadeiros cearenses. O líder desses pescadores, Manuel “Jacaré”, morreria acidentalmente nas filmagens no Rio de Janeiro. Este fato evoca memórias do Estado Novo, da atribulada passagem de Welles pelo Brasil e da luta dos jangadeiros por direitos trabalhistas.
FICHA TÉCNICA
A Jangada de Welles – 2019
Classificação Indicativa: 12 anos
Duração: 75 minutos
País: Brasil
Bitola: DCP
Idioma: Português
Direção: Firmino Holanda e Petrus Cariry
Produção Executiva: Bárbara Cariry
Roteiro: Firmino Holanda e Petrus Cariry
Mixagem e Desenho de Som: Érico Paiva
Trilha Musical: João Victor Barroso
Som Direto: Yures Viana
Direção de Produção: Teta Maia
Fotografia: Petrus Cariry
Montagem: Petrus Cariry e Firmino Holanda
Produtora: Iluminura Filmes
Distribuidora: Sereia Filmes
FESTIVAIS
41º Festival Internacional Del Nuevo Cine Latinoamericano Havana (CUBA, 2019)
24º FAM – Florianópolis Audiovisual do Mercosul (SC – BRASIL, 2020) – Prêmio de Melhor Documentário
14º Brazilian Film Festival of New York (EUA, 2020)
24º Brazilian Film Festival of Miami (EUA, 2020)
Montana International Film Festival (EUA, 2020)
16º SANFIC – Santiago International Film Festival (CHILE, 2020)
13º Islantilla Cinefórum (ESPANHA, 2020)
8ª FIDBA – International Documentary Film Festival of Buenos Aires (ARGENTINA, 2021)
11º FESTIN – Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa (PORTUGAL, 2020)
32º Festival Cinelatino – Recontres de Toulouse (FRANÇA, 2020)
13º International Film Festival “Fishermen of the World” (FRANÇA, 2021)
4º SANFICI – Santander Festival Internacional de Cinema Independente (COLÔMBIA, 2021)
5º RAMSGATE – International Film and TV Festival (REINO UNIDO, 2021)
43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (SP – BRASIL, 2019)
15ª Mostra de Cinema de Ouro Preto (MG – BRASIL, 2020)
9ª Mostra Ecofalante de Cinema (SP – BRASIL, 2020)
21º FICA – Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (GO – BRASIL, 2020)
15º Festival Aruanda do Audiovisual Brasileiro (PB – BRASIL, 2020)
21º Festival Kinoarte de Cinema (PR – BRASIL, 2019)
9º Festival Internacional de Cinema em Balneário Camboriú (SC – BRASIL, 2019)
22ª Mostra Retrospectiva/Expectativa – Cinema da Fundação Recife (PE – BRASIL, 2019)
5ª Mostra Ambiental do Recife – Maré (PE – BRASIL, 2020)
SOBRE FIRMINO HOLANDA
Professor e pesquisador de Cinema da Universidade Federal do Ceará (UFC), Firmino Holanda é autor de livros como “Orson Welles no Ceará” e “Do Sertão a Saturno – O Ceará no Cinema”. Dirigiu os documentários “Cidadão Jacaré” (2005), em parceria com Petrus Cariry, “Capistrano no Quilo” (2007) e “A Balada do Sr. Watson” (2017). É colaborador de roteiro e montagem dos cinco longas-metragens ficcionais dirigidos por Cariry (“O Grão”, “Mãe e Filha”, “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois”, “O Barco” e “A Praia do Fim do Mundo”). Em 2019, lançou a “A Jangada de Welles”, repetindo a parceria na direção com Cariry.
SOBRE PETRUS CARIRY
Petrus Cariry nasceu no Ceará, em 1977. Realizou nove curtas-metragens entre 2002 e 2010, como “A Velha e o Mar”, “Dos Restos e das Solidões” e “A Montanha Mágica”. Em 2007, dirigiu o drama familiar “O Grão”, seu primeiro longa-metragem que deu início ao que intitulou de Trilogia da Morte, composta também por “Mãe e Filha” (2011) e “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” (2015). Seus primeiros longas ganharam juntos mais de 100 prêmios em festivais de cinemas nacionais e internacionais. Dirigiu “O Barco” (2018), adaptação de conto escrito por Carlos Emílio Corrêa Lima; o documentário “A Jangada de Welles” (2019), ao lado de Firmino Holanda, e “A Praia do Fim do Mundo” (2021) ainda inédito em circuito comercial. Atualmente dedica-se à pós-produção do filme de estrada “Mais Pesado é o Céu” (2022), estrelado por Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios.
Serviço
Estreia de A JANGADA DE WELLES nos cinemas
A partir de 23 de junho de 2022.
Circuito: Fortaleza, Salvador, Aracaju, Recife, Maceió, Goiás, Manaus, Porto Alegre, Vitória, Rio de Janeiro e São Paulo.