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Gravity: série inédita do artista visual cearense Juca Máximo retrata a sua visão de mundo pelo inconsciente, em contraste com a teoria da gravidade

De olhos vendados, artista deu vida às obras que estão expostas e disponíveis para visitação em seu novo espaço no RioMar Fortaleza

Em 2020, quando o mundo todo foi surpreendido por um vírus letal e invisível, que causou uma reviravolta na vida de milhões de pessoas, forçando-as a adiarem planos, diminuírem o ritmo do cotidiano e voltarem os olhos para o essencial; a arte, outrora vista por muitos como algo secundário, tornou-se refúgio e, ao mesmo tempo, fuga. Difícil encontrar alguém que não tenha sequer colocado uma música ou um filme para desligar-se, por um momento, do caos.

Com o confinamento, houve a descoberta de uma nova realidade e o despertar do autoconhecimento para muitos, que relatam a desconstrução de conceitos e opiniões e a construção de novos valores e formas de enxergar a vida, o outro, as relações, os sentimentos e a espiritualidade. “É quase impossível atravessar esse momento sem refletir sobre o real sentido de nossa existência, de nossas atitudes e dos nossos costumes. O momento, hoje, traz exatamente essa reflexão”, avalia a psicóloga Leissa Feitosa.

Buscando caminhos para entender e expressar o turbilhão de sensações que se passaram com esses novos paradigmas, a arte, em suas mais infinitas facetas, foi uma grande aliada, cumprindo seu papel terapêutico e revolucionário de representar e dar forma e voz a tudo aquilo que o homem ainda não sabe nomear. Para quem vive dela, não foi diferente. O momento também pediu ressignificação. Questionamentos como “qual o sentido e o valor da minha arte?” foram inevitáveis para artistas como Juca Máximo. O cearense, que desde 2017, resolveu entregar-se completamente ao universo das telas, esculturas, desenhos e outros tipos de obras, chegou a indagar-se sobre o verdadeiro poder de reflexão e transformação do seu trabalho, força motriz da sua trajetória.

Inquieto por natureza, Juca entrou em profundo processo de introspecção para tentar absorver as mudanças exteriores, extrair delas os aprendizados necessários e entender ou, pelo menos, tentar ordenar seus pensamentos e buscar conexões entre eles e a realidade. Foi a partir disso, que buscou um maior aprofundamento na psicanálise. Adepto e entusiasta dessa abordagem da psicologia, ele foi buscar no inconsciente, principal objeto de estudo dos terapeutas analistas, subsídios para captar, acolher e externar seus processos mentais.

Visão de mundo pelo inconsciente

Após essa imersão, Juca deu vida à sua mais nova série, Gravity, em que todos os esboços foram feitos com o que define como os “olhos do inconsciente”. O resultado está exposto e disponível para visitação em seu novo espaço no Riomar Fortaleza, o Juca Máximo Gallery & Studio, localizado no piso L2.

Durante a criação, o artista visual privou-se de olhar para as telas. Com a visão interrompida por uma venda, ele permitiu aflorar os seus diálogos internos, os fluxos de pensamento e o imaginário, deixando-se levar ainda pela força da gravidade, ora puxando-o para cima, ora para baixo, cujos movimentos foram representados com pinceladas e formas esculpidas de maneira abstrata, marcante e dramática.   

Gravity é uma série totalmente vinda da minha visão de mundo pelo inconsciente, da minha percepção do sentir. As linhas que vêm e vão sobre a pessoa figurada são como os nossos sentimentos, em constante mudança durante todo o dia, durante toda a vida. Subindo e descendo, em constante movimento, imaginando, criando ou se enraizando, encaixando, fazendo parte. Todas as obras foram criadas de olhos fechados, tendo em vista apenas duas coisas: a força da gravidade me puxando para a terra, e a força do crer, do imaginário, me puxando para o céu, para cima”, explica.

Contraste entre o real e o intangível

A série Gravity reúne 22 obras, entre pinturas feitas em acrílica sobre tela, instalações em ferro e luz, e esculturas feitas em modelagem. Num intenso contraste entre o real e palpável frente ao subjetivo e imaterial, Juca usa os princípios da queda livre e das curvas de luz aliados ao seu fluxo psíquico como as principais matérias das novas obras. “É uma das quatro forças fundamentais da natureza. É a atração mútua. São todas as partículas de matéria que se atraem entre si. É o mover contínuo. É o espaço e o tempo. É o calor do encontro entre os corpos. O ritmo dos batimentos dentro do peito. A dualidade de sentimentos. É a nossa interpretação do mundo e da realidade. É o tocar e o sentir. É o ver e o crer. É Deus, em todas as suas formas. São os sentimentos aflorados, os enraizamentos e a liberdade do plano imaginário. É a Gravidade”, define o autor da série.

Para o filósofo e crítico de arte Lucas Dilacerda, a série Gravity é mais uma em que o artista mergulha, mais uma vez, a fundo numa simbologia, tornando-a real. “Os artesãos da arte costumam ver além e tornam visível o invisível. Juca tem uma sensibilidade apurada que o permite sentir e perceber novos mundos por vir”, pontua.

Juca Máximo Gallery & Studio

Além de Gravity, que faz parte da exposição de estreia do novo espaço do artista, intitulada Full, o Juca Máximo Gallery & Studio, também reúne um acervo com mais de 80 obras, que compõem outras séries de grande expressão da sua carreira. São elas: “Absences”, “Portrait Colors”, “Connection”, “Skin That I Feel”, “Writer your story”, “Expressionism”. O local ajuda a retratar a trajetória do cearense, que após passar mais de três anos percorrendo o mundo com seu trabalho, fixou-se em sua cidade natal, para poder observar, de maneira mais próxima, o que os seus conterrâneos sentem ao ver suas obras.

Ao todo, são 55 pinturas, 2 divisórias, 4 instalações, 2 esculturas, 10 bustos, 12 desenhos sobre papel e um painel gigante de 15m² presentes no espaço. Dentre elas, 20 foram agraciadas e reconhecidas com prêmios de arte internacionais. É o caso de “Escreva sua História I”, “Gravity I e II”, “Intense I” , “Portrait Colors VIII” – que ganhou a capa da Revista Exclamation Magazine, importante publicação de arte da Flórida, no início deste ano; e a instalacão “Touch”, Vencedoras do Prêmio Daylighted Artist Contest, organizado pela Ello.co, nos EUA, e expostas nas cidades americanas de Chicago, San Francisco, San Diego, Los Angeles, Redwood, Oakland e nos Hotéis Hilton, Hyatt, Accor e Marriotttelas, as telas das séries “Retalhos” e “Pele Que Sinto” também ganham um lugar especial na Gallery. Outras obras agraciadas com prêmios internacionais, tais como o “Art Revolution Taipei-Taiwan”, mais importante prêmio de arte da Ásia, o “Art of humanity”, do Canadá, e o “Prêmio Displate/Ello” e “Daylighted”, nos EUA, também poderão ser apreciadas e estarão com exemplares disponíveis para venda.

SERVIÇO 

Gravity – Juca Máximo Gallery & Studio

A partir de 25 de setembro 

RioMar Fortaleza (Piso L2, em frente ao Elevador Panorâmico) 

De segunda a sábado das 10h às 22h, e aos domingos, das 13h às 21h

Entrada Gratuita

Foto: Jarbas Oliveira