Projeto da Casa de Cuidados do Ceará tem foco na saúde mental dos cuidadores de pacientes

Um projeto da Casa de Cuidados do Ceará (CCC) busca promover momentos de escuta e acolhimento aos cuidadores dos pacientes da unidade. Responsável pela desospitalização de pessoas cronicamente dependentes, a unidade conta com profissionais de Psicologia e Terapia Ocupacional, que trabalham técnicas para o controle do estresse e o aumento da atenção a si, por meio do grupo “Bem Cuidado”.

Realizado toda segunda-feira, às 11 horas, a ideia é que os momentos ajudem a preservar a saúde mental dessas pessoas, para evitar ou lidar com situações de estresse e de desconfortos emocionais. Cuidar de alguém pode não ser tarefa fácil e implicar no equilíbrio dos profissionais e familiares que realizam essa tarefa. Daí a importância de ações com grupos de apoio para quem atua nesse tipo de serviço.

“É um espaço de acolhimento, onde todos são bem-vindos. É uma forma de descoberta de como pequenas mudanças são significativas em nossa vida. Cuidar de si mesmo não é um ato isolado, mas uma prática que repercute inclusive em nossas interações sociais”, explica a terapeuta ocupacional Nivea Barros.

O tema trabalhado na última edição do grupo foi o atual estilo de vida da sociedade, que pode ocasionar estresse, esgotamento e exaustão. “Vivemos uma época de excesso de informação e somos cobrados a sermos multitarefas, quase vivendo no automático. Diante disso, é preciso se desligar um pouco”, orienta a psicóloga Ariana Matias.

Na ocasião, a profissional fez perguntas norteadoras ao grupo sobre o que gera estresse e como cada pessoa reage a situações do tipo. “Aquele constante problema de memória, por exemplo, pode ser devido à falta de atenção diante do excesso de demandas”, pontua.

Cuidadores relatam desafios do cuidado com a saúde mental

A cuidadora Flávia Helena da Silva (foto), 49, participou pela primeira vez do grupo e gostou tanto da experiência que pretende repetir. “A gente relaxa. Gostei demais. Eu faço curso de cuidadora e valorizo demais esses momentos. Qualquer coisa que tiver aqui eu ‘tô dentro’”, comenta, aos risos.

O momento foi uma oportunidade para desacelerar, pois segundo ela, “não para nunca”. “Eu posso afirmar que saí mais leve. Até minha filha já comentou que preciso parar de vez em quando. Estou pensando sempre na minha família, busco deixar tudo em ordem”, confessa.

O cuidador Mateus Rodrigues, 27, está na CCC há cinco meses e também costuma participar das atividades do equipamento, entre elas o grupo “Bem Cuidado”. Ele cuida do pai e é a primeira vez que exerce o ofício de cuidador. “O grupo é um momento de esquecer um pouco os problemas e relaxar, as profissionais são excelentes”, opina.

O pai de Mateus foi operado no Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e deu continuidade ao tratamento no Hospital Geral Dr Waldemar Alcântara (HGF), até ser transferido para a Casa de Cuidados. “Eu trabalhava em um frigorífico, somente pela manhã. Diante da rotina dos demais familiares, optei por cuidar dele em tempo integral. Emprego depois a gente arruma outro, a prioridade agora é ele. Tem valido muito a pena, pois ele tem melhorado cada vez mais”, conta.

Mateus recentemente participou do programa “Da Casa ao Mar” (foto), também da CCC, acompanhando o pai. No projeto, os pacientes são contemplados com um banho de mar. “O programa visa proporcionar a construção de experiências significativas, restaurar o potencial criativo, promover melhoria na qualidade das relações de socialização, favorecer o reconhecimento da autoimagem, auxiliar no enfrentamento da hospitalização e oferecer suporte para compreensão do processo saúde-doença e qualidade de vida”, afirma Leonardo Rodrigues, médico da CCC.

Apesar dos desafios do exercício do cuidar, Mateus diz que mantém o controle com a saúde mental. “Essa mudança de rotina e o problema de saúde do meu pai trouxeram um turbilhão de sentimentos. Busco participar dessas programações da Casa, que ajudam bastante. Além disso, perceber que meu pai vem melhorando a cada dia é minha maior motivação atualmente, o que me deixa mais feliz. Só tenho a agradecer aos profissionais”, finaliza.