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Suicídio nas populações indígenas: CRP-CE alerta para a importância das políticas de prevenção

O suicídio, anualmente, mata mais do que a malária, câncer de mama, guerras e homicídios. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 700 mil pessoas tiraram a própria vida em 2019, o que representa uma em cada 100 mortes no mundo. Em relatório de 2014, o Brasil foi apontado como o oitavo país com maior índice de suicídio. O quadro se potencializa quando se fala em população indígena.

De acordo com estudo da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), o qual analisou 725 mortes registradas pelo Sistema de Informação da Atenção à Saúde Indígena (Siasi) entre 2010 a 2017, mulheres representam 32,1% dos suicídios entre indígenas; já entre homens o índice chega a 67,9%. Ou seja, o sexo masculino chega a morrer duas vezes mais em comparação ao sexo feminino. Dentre os modos utilizados para morte, o enforcamento está em primeiro lugar, com 592 óbitos e 81,6% dos casos. Em seguida aparece a auto intoxicação, com 67 mortes e 9,2%. Por último, a arma de fogo, com 32 mortes e, consequentemente, 4,4% dos suicídios.

É difícil mensurar a motivação para o suicídio na população indígena, uma vez que existem cerca de 305 etnias com 274 línguas no Brasil. “Devem ser levadas em consideração todas as particularidades e especificidades de cada povo indígena, até mesmo a espiritualidade. Entretanto, a literatura científica aponta para um desgaste quanto à luta pelos direitos de acesso às terras e afirmação de identidade, além de violência e descriminação por parte da sociedade em volta”, pontua Nágela Evangelista, presidenta do Conselho Regional de Psicologia (CRP-CE).

Direcionamento

A preocupação com o suicídio levou a OMS a criar novas diretrizes para orientar os países a como prevenir e atender os casos: limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo; educar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio; promover habilidades socioemocionais para a vida em adolescentes; identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.

Entretanto, a nível de Brasil, faltam estratégias e políticas públicas específicas para a população indígena. Além da prevenção, é necessário pensar no pósvenção, quando o suicídio chega a acontecer. Muitas vezes as famílias ficam desamparadas, sem suporte psicológico para lidar com a situação. “O atendimento psicológico busca dar suporte às pessoas que foram diretamente impactadas pelo suicídio de alguém do seu ciclo. É necessário abrir um espaço de escuta e acolhimento”, finaliza Nágela.