Zudizilla se despede de seu segundo álbum com o curta-metragem “De César a Cristo”
Com direção de Marcelo Alves e Diogo Comum, filme tem participação de Luedji Luna e apresenta os conflitos de um casal preto a partir das interferências e consequências do preconceito racial
Filme é lançado no canal de Youtube do Zudizilla na sexta-feira, dia 28 de abril
Assim como o filme “Vozes do Silêncio” (Natura Musical) abriu a era “Zulu Vol. 2: De César a Cristo”, segundo álbum de estúdio lançado pelo rapper Zudizilla em 2022, o artista de Pelotas (RS) anuncia seu novo curta “De César a Cristo” para encerrar o ciclo do disco. Disponível em seu canal no YouTube a partir desta sexta-feira, dia 28 de abril, o início dessa despedida também abre caminho para o grande último manifesto, como ele costuma chamar o “Zulu Vol. 3: quarta parede”, seu próximo trabalho a ser lançado ainda neste ano.
“A ideia de lançar o short film é encerrar o ciclo do segundo volume e auxiliar também no entendimento de todas as subjetividades desse segundo disco, que parece ser mais simples de ser absorvido que seu antecessor, mas com diversas camadas escondidas. Acredito que vai lançar luz para algumas questões da poética do disco, assim como trará outras dúvidas também”, explica o rapper.
Filmado em preto e branco, o filme tem pouco mais de seis minutos e conta com a participação da cantora e compositora Luedji Luna e do próprio Zudizilla, que se mescla com seu personagem criado para sua série de discos, o Zulu. Entre diversas referências de filmes que moldaram sua construção artística e pessoal, o curta bebe da fonte visual e narrativa de “Malcom & Marie” (Sam Levinson). “Nesse filme eu também trago a tensão entre um casal, que neste caso se dá porque o personagem Zulu está, mais uma vez, tendo um de seus acessos de humor enquanto sua companheira relaxa, porque obviamente não precisa lidar com os problemas de seu cônjuge”, comenta ele.
É sobre amor, mas carrega com suas canetadas também a interferência do racismo estrutural dentro deste e qualquer outro universo que uma pessoa preta se depara em seu dia a dia, do início ao fim de sua vida. A faixa “Afortunado”, que abre o disco, também é ponto de partida nesta narrativa que se inicia a partir de uma ligação da mãe do personagem Zulu, que no auge da terceira idade não consegue parar de trabalhar para os outros e muito menos ter um descanso merecido de fim de ano. Então vem o acesso de raiva do protagonista com essa condição, tão comum no Brasil, principalmente com pessoas pretas.
“De César a Cristo é sobre isso: o limite que te fará ser amoroso como Cristo ou voraz como César. Independente de qual for sua escolha, se você for preto é preciso encontrar o equilíbrio entre ambos ou optar por uma das posturas que o leve ao poder para que solucione problemáticas inerentes do indivíduo para que ela não interfira na existência preta, ou seja, para que ela exista para aquém do racismo ao invés de só se movimentar quando for acuado pelo opressor”, reflete Zudizilla. “O preconceito racial molda o caráter e interfere nas mínimas ações de quem sofre, tornando o ato de amar um projeto político já que é muito difícil estar com alguém que é “quebrado” pela sociedade”, complementa.
Assim como o disco, o filme – que tem direção de Marcelo Alves e Diogo Comum – é basicamente a tensão que o racismo coloca sobre pessoas pretas e que por isso têm dificuldades de ter simples experiências, como amar, por exemplo. “Ele e, neste momento eu, Zudi, me misturo com meu personagem. Agora podemos ter vivências maravilhosas e segurança financeira, mas o racismo o transformou em um protagonista que busca poder a todo custo para amenizar algumas dores e a forma de buscar é pelo amor ou ódio, Cruz ou espada, César ou Cristo”, finaliza ele.
Fã de contraste e fotógrafo nas horas vagas, Zudizilla apostou no P&B para dar o tom mais dramático para o filme. “Essa estética nos ajudou muito a focar nas diversas mensagens sutis que existem ao longo do curta, de forma subjetiva”, comenta o diretor Marcelo Alves, que acredita que o preto e branco ajuda na interpretação mais profunda de conceitos e narrativas. “Exploramos o descontentamento silencioso deste casal, as discussões por motivos que vão desde a convivência comum, mas também por experiências passadas que carregamos sempre nas vidas”, explica Alves.
Diogo Comum celebrou o resultado a partir da liberdade de criação: “Essa narrativa foi traçada a partir da nossa percepção e interpretação do disco. É a forma como sentimos a arte dele”, comenta. “Fiquei muito admirado como ele lida com a câmera e isso imprime muito na imagem final. Isso me faz pensar que o Zudi é um artista completo”, diz Comum.
Com produção musical de Zudizilla, Emicida, Coruja BC1 e Joabe Reis, o disco “Zulu Vol. 2: De César a Cristo”, foi lançado em 2022 a partir do Edital Natura Musical anunciado em 2020. Em sua trilogia, o volume 1 explora a possibilidade de sonhar e o volume dois é sobre a possibilidade de alcançar esses sonhos de qualquer forma. “O volume 3, que em breve chegará nas plataformas, é muito mais sobre autonomia. Nele reivindico a possibilidade de uma pessoa preta ter uma vida normal de questões ordinárias para resolver”, adianta Zudizilla.
Ficha técnica – short films “De César a Cristo”
DIREÇÃO MARCELO ALVES E DIOGO COMUM
DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: MARCELO ALVES
COLOR: FELIPE TOLOTTI
EQUIPE FELIPE CORREA, ROBERTO NETO, RENAN BOSSI, CAIO NOGAL!
DESIGN: GUILE FARIAS
APOIO: SANTA TRANSMEDIA E DIGNO FILMES
PRODUÇÃO EXECUTIVA: JULIANA MELO
MANAGER: SENTIDOS PRODUÇÕES
Sobre Zudizilla
Nas rimas de Zudizilla cabe o mundo. Do sul do Brasil o rapper despontou, mas cada vez mais vem abrindo novos espaços e rumos com uma produção arrojada e organicamente conectada às principais tendências sonoras do momento. Flertando com o jazz e a
cultura hip hop, Zudizilla também bebe de referências e ideias da música popular brasileira, acentuando de modo preciso sua obra com o aqui e agora ainda que para sua caneta, noções como passado, presente e futuro caibam todas num mesmo verso.
Em 2013 lançou sua primeira mixtape, “LUZ”. A repercussão do álbum foi tão positiva, que no ano seguinte, K1 Jay, membro dos Racionais Mc’s, o aponta como uma das mais importantes revelações da cena atual.
Em 2015 lançou o disco “Faça a coisa certa”, inspirado no filme de Spike Lee e com referências visuais nas obras de Jean-Michel Basquiat, trazendo à tona o debate sobre identidade racial no Rio Grande do Sul e renovando a militância negra no estado.
Em 2016 integrou o seleto grupo de artistas que participaram da segunda edição do projeto PULSO (laboratório de vivência e experiência criativa), iniciativa da Red Bull Station. No mesmo ano, foi o primeiro rapper a se apresentar no Teatro São Pedro, maior e mais
renomado espaço cultural da capital Porto Alegre.
Em 2018 em suas incursões por São Paulo, Zudizilla faz parcerias com artistas como Luedji Luna, Coruja BC e Dj Nyack. Em 2019, o rapper lançou o disco “Jazzkilla” em parceria com a banda de jazz de Pelotas, Killa, e o disco “Zulu Vol. 1: De Onde Eu Possa Alcançar o Céu
Sem Deixar o Chão”. Em 2021 lançou o EP visual “MANHÃ, TARDE & NOITE”. Em 2022, lança “Zulu Vol 2: De César a Cristo”, um projeto audiovisual que contempla um disco e dois curtas metragem. Em 2023 promete o lançamento de “Zulu Vol. 3: quarta parede” para o início de julho.