Dragão do Mar celebra o Dia Nacional da Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência nesta segunda-feira (21)
Por meio do Museu da Cultura Cearense, centro de arte e cultura lança vídeo do Projeto Acesso, que desde 2006 realiza ações de pesquisa, formação e mediações voltadas para comunidades com deficiência.
No Dia Nacional da Luta pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, o Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, por meio do Museu da Cultura Cearense, reafirma o seu compromisso com a visibilidade às pautas das comunidades com deficiência, bem como com a oferta de programações que contemplem todos os públicos. Com o Projeto Acesso, o MCC vem contribuindo, desde 2006, com o despertar de uma consciência para a inclusão. Desde o seu surgimento, o projeto possibilitou a participação de aproximadamente 5.000 pessoas com deficiência e 1.500 profissionais de museus e da cultura nas distintas ações de pesquisa, formação e mediações.
A ação sociocultural foi criada partir da percepção da reduzida presença das pessoas com deficiência no Museu da Cultura Cearense e de contínuas observações, reflexões e pesquisas sobre o papel social dos museus. O Projeto Acesso foi concebido para incluir, respeitar e fortalecer processos identitários e vínculos culturais, suscitar sentimentos de pertencimento e autonomia, garantir a participação ativa das pessoas com deficiência como protagonistas no campo museológico e a formação de profissionais de museus comprometidos, com atitudes sensíveis e solidárias.
Segundo Márcia Moreno, gerente do Museu da Cultura Cearense e coordenadora do Projeto Acesso, os museus do Dragão do Mar têm empenhado esforços em contemplar essas comunidades com ações regulares, para além das efemérides relacionadas às pessoas com deficiência. “Estamos sempre investindo na qualificação do nosso corpo de profissionais, bem como em diálogo permanente com instituições de ensino e organizações sociais, de modo que estejamos melhor preparados para ofertar ações plurais, diversificadas, acessíveis e ricas em fruição e difusão de conhecimentos sobre arte, cultura, patrimônio cultural e acessibilidade”, afirma a gestora do MCC.
O jornalista Carlos Viana tem deficiência visual e integra o Projeto Acesso desde 2007. Segundo ele, o grande diferencial da iniciativa é a participação efetiva de pessoas com deficiência, tanto de educadores do Museu, quanto de visitantes, que têm voz ativa para sugerir exposições e recursos de acessibilidade, bem como o contato próximo a artistas, que favorece o intercâmbio de perspectivas e a ampliação de experimentações dentro do projeto. Atualmente membro do GT de Cultura Acessível da Secretaria da Cultura do Estado do Ceará, Carlinhos diz que a experiência trouxe grande crescimento pessoal e profissional, além de abrir seus horizontes para a apreciação de arte e cultura. “É muito bom saber que existe um local que tem realmente esse cuidado com a inclusão”, diz o repórter.
Ao longo do período de isolamento social, o Museu da Cultura Cearense realizou inúmeras lives que deram protagonismo a pessoas com deficiência, dentre elas a série “Narrativas sobre Acessibilidade a Museus”, que em um dos encontros contou com a participação de Vanessa Vidal, a primeira candidata surda a concorrer ao título de Miss Brasil, e que levantou a bandeira da inclusão no tradicional concurso de beleza. Em bate-papo ao vivo, no canal do Dragão do Mar, Vanessa compartilhou suas experiências no Projeto Acesso. Mestre em Estudos da Tradução pela Universidade Federal de Santa Catarina, professora assistente da Universidade Federal do Ceará e diretora da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos, Vanessa ministrou cursos de Libras para funcionários e educadores dos museus do Dragão. “Fico muito feliz que as ações do Projeto Acesso tenham não só continuado, como também se intensificado ao longo desses anos. Precisamos de mais iniciativas que tornem os espaços culturais mais acolhedores às pessoas com deficiência. Um receptivo bem preparado para abordar e guiar essas pessoas dentro dos espaços do museu é fundamental, assim como a acessibilidade ser praticada nos acessos até o museu. Essa é a inclusão no seu sentido mais amplo e que gera desenvolvimento social.”
As ações do Projeto Acesso centram-se na pesquisa, educação e comunicação. Pesquisa de visitantes, formação do público-alvo e de mediadores de museus, oferta de exposições e atividades culturais são desenvolvidas por equipe formada por profissionais com deficiência (seguindo a premissa do movimento “nada para nós sem nós”) e sem deficiência, público com deficiência e instituições socioeducativas (universidades, escolas, ONGs, etc.).
No campo da pesquisa, busca-se compreender como vivem, sentem e significam os museus; os momentos e lugares que escolhem para se divertir; as instâncias socializadoras que delimitam suas preferências e práticas culturais; as necessidades emocionais, expectativas, modos de viver e perceber o mundo; e os obstáculos para participar efetivamente nos museus e espaços culturais. Levando em conta também as singularidades de percepções, potencialidades e distintos modos de aprendizagem, além das características sociais, econômicas e culturais. Ressalta-se a pesquisa Perfil-Opinião do público visitante da exposição Na Ponta dos Dedos, desenvolvida em 2019, em cooperação com o Observatório de Museus e Centro Culturais, Museu da Vida, Museu de Astronomia e Ciências Afins, Departamento de Museus e Centros Culturais (DEMU), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o atual Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), com a coordenação de Luciana Sepulveda Koptke, por meio de entrevistas com 101 pessoas com deficiência visual. Ao longo dos anos, foi possível conhecer o público alvo em sua diversidade, a partir do contato com os próprios sujeitos em inúmeras situações; com pesquisadores, educadores, especialistas, representantes de instituições socioeducativas que atendem pessoas com deficiência (universidades, escolas, ONGs, dentre outras).
Programa Educativo e Acessibilidade
As atividades educativas em estreita relação com o Núcleo de Ação Educativa do MCC, tem como objetivo desenvolver mediações didáticas em ambientes expográficos, realizadas em conjunto com a equipe do projeto Acesso. Além disso, são realizados processos formativos para educadores de museus, agentes do campo cultural e, em especial, o público-alvo. A ideia é oferecer ações educativas que permitam a qualquer pessoa, independente da condição, usufruir de objetos, conteúdos, espaços, produtos e serviços oferecidos nas exposições, dotando-os de sentido educativo, numa perspectiva lúdica adaptada aos perfis cognitivos, costumes, estilos de percepção e comunicação que permita uma experiência prazerosa no museu.
No âmbito da comunicação, além da exposição, outros meios suscitam comunicação e interação, desde mediações educativas entre objetos e usuários, serviços, divulgação e atividades em ambientes virtuais e tecnologias acessíveis que possibilitam protagonismo, autonomia e participação ativa quando elaboradas com fins educativos específicos.
A exposição de longa duração Vaqueiros, assim como as exposições temporárias do MCC, propiciam relações afetivas com o museu e recursos que contemplam a diversidade de público. Com objetos e instalações disponíveis para apreciação multissensorial, espaços amplos que permitem circulação livre, recursos e equipamentos expográficos que contemplam especificidades de percepção dos grupos, as exposições de longa duração e temporárias buscam propiciar, autonomia, apreciação e interatividade no ambiente, a partir de textos e legendas em Braille, letras ampliadas, maquetes táteis, vídeo em Língua Brasileira de Sinais sobre conteúdo da exposição, imagens táteis; audiodescrição, dentre outros elementos que são elaborados a cada exposição no diálogo entre equipe do projeto Acesso, colaboradores (as) com deficiência, educadores, artistas, curadores e demais envolvidos no processo criativo e de montagem.
Entre 2006 e 2019, foram realizadas mais de 50 exposições temporárias acessíveis, algumas com protagonismo do público alvo do projeto, como a exposição de brinquedos criados por Celso Nascimento (2008), a exposição “Na ponta dos dedos”, em 2010, e a exposição dos jovens do grupo Neurodiversos da Casa da Esperança, em 2019.
Destacam-se ainda centenas de debates e encontros locais e nacionais sobre museus, deficiência e acessibilidade; apresentação da experiência em conferências, congressos e seminários; publicação de livros, dissertações, citações e artigos acadêmicos, tornando-se um trabalho de relevância nacional e internacional.
Como participar
O Projeto Acesso considera valiosa a participação de distintas pessoas e convida interessados a se integrarem à iniciativa, que devem entrar em contato pelo e-mail projetoacesso@gmail.com ou pelo número (85) 99985.3160.