Jorge Helder lotou o BNB Clube lançando o disco “Caroá” em Fortaleza, com realização do CCBNB e do Jazz em Cena
Noite de muita emoção, ao som de temas autorais e músicas de Chico Buarque com novos e desafiadores arranjos.
O BNB Clube ficou lotado na noite desta terça-feira, 15/8, no show de lançamento do disco “Caroá”, de Jorge Helder, contrabaixista, compositor, arranjador, diretor artístico e musical, produtor musical, cearense atuante no cenário musical desde a década de 80 e, desde os anos 1990, um dos nomes mais requisitados para shows e gravações no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde se destaca ao lado de artistas como Chico Buarque, Maria Bethânia e Edu Lobo.
O show teve entrada franca, com realização do CCBNB Fortaleza, que está completando 25 anos de atividades, e apoio do projeto Jazz em Cena. Parceiro de Chico Buarque, presença constante em palcos e estúdios com nomes como Bethânia e Edu, entre inúmeros outros, Jorge vem se dedicando de forma crescente também a seu trabalho autoral, despertando elogios de crítica e público para seus discos, produzidos com paciência, cuidado, esmero.
Na noite desta terça-feira, em um reencontro emocionante com o público de Fortaleza, apresentando seu show autoral 41 anos depois de ter deixado a capital cearense para estudar música em Brasília e, a partir de 1986, se fixar no Rio de Janeiro, Jorge apresentou pela primeira vez na cidade o show com o repertório do novo álbum, “Caroá”, indicado ao Grammy. O show reuniu grande público e foi marcado por muitos aplausos para Helder, Marcio Resende (saxofone e flauta), Thiago Almeida (teclado e escaleta) e Michael da Silva (bateria), aclamado por Jorge como um artista “com tudo para ser um dos grandes músicos do Brasil”.
“É muito emocionante apresentar aqui hoje o disco ‘Caroá, músicas feitas durante a pandemia, sozinho, em uma solidão monstruosa, com pensamentos incertos sobre o futuro, e hoje estar na minha terra, com tantos amigos queridos, e tocando ao lado desses grandes músicos. Então é muito emocionante. Agradeço muito a presença de todos”, destacou Jorge, no palco do BNB Clube, para muitos aplausos.
Além dos belíssimos temas do disco “Caroá”, com direito a muitos vocalises de Jorge em composições como “Santos de casa” (que no disco tem voz de Sérgio Santos), composições de seu parceiro Chico Buarque formaram um bloco especial, pensando para dialogar com o público. Os novos arranjos apresentados por Jorge Helder chamaram atenção pela ousadia e pela dificuldade de execução, como em “O que será”, em que o baixista alterna entre a harmonização e os solos.
“O meu amor” ganhou recriação em um compasso composto desafiador tanto para o contrabaixista quanto para o baterista. E “Samba e amor” foi uma das mais aplaudidas da noite, com o suingue da bateria de Michael da Silva se somando à intensidade e ao lirismo do saxofone tenor de Marcio Resende e ao piano de Thiago Almeida. Apenas alguns dos vários pontos altos do show de uma hora e meia, marcado por muita emoção, como ressaltou Jorge, no palco. Um reencontro com a própria história, ao mesmo tempo em que novos capítulos são escritos, com muita expectativa de que “Caroá” tenha uma longa e prolífica carreira de shows.
Um grande encontro de artistas
Também chamou atenção o grande número de músicos e músicas da cena cearense que fizeram questão de assistir ao show e se confraternizar com Jorge Helder. Entre eles, os compositores Fausto Nilo e Marcus Dias, os cantores e compositores Edinho Vilas Boas, Kátia Freitas, Gildomar Marinho (também diretor do CCBNB Fortaleza), Ciribáh Soares, Rogério Franco, Eugênio Leandro, Mona Gadelha, a cantora Idilva Germano.
E ainda a compositora e produtora cultural Fernanda Quinderé (para quem Jorge contou, do palco, sobre os quatro meses em que tocou com Luizinho Eça), os compositores Rui Farias e Maurício Matos, a professora e escritora Martine Kunz, viúva do saudoso agitador cultural Claudio Pereira, o guitarrista Stênio Gonçalves, o poeta Ireleno Benevides, amigo de Jorge de longa data, a produtora cultural Lu Resende. Além de muitos outros, como jovens da cena instrumental da cidade.
Mais sobre “Caroá”
Na definição do dicionário, o “Caroá” é um tipo de bromélia de flores vermelhas e rosadas, típica de áreas de Caatinga, cujas folhas fornecem fibra para confecção de barbantes, redes, tecidos e esteiras, entre outras peças. Caroá também é o nome do segundo álbum de Jorge Helder, que buscou inspiração em suas origens para batizar o tema que dá nome ao álbum.
”Fiz uma grande pesquisa voltada para temáticas especificamente nordestinas, por se tratar de um baião influenciado pelo grande Luiz Gonzaga. A fotógrafa Géssica Amorim, que fez a foto que está na capa, é pernambucana e me contou que muitas famílias nordestinas, inclusive a de Gonzaga, tiram o seu sustento do Caroá”, pontua Helder. O próprio Luiz Gonzaga compôs “Arrancando Caroá”, tema gravado em 1941.
Aos 61 anos, 41 deles dedicados à música, Jorge Helder é presença constante nos projetos – álbuns e turnês -, dos maiores nomes da música brasileira. A lista é tão extensa que é impossível nomear todos. Na estrada em mais uma turnê ao lado de Chico Buarque, de quem é parceiro e companheiro na música desde 1993, Jorge Helder costuma ser apresentado ao público, por Maria Bethânia, como “o baixo mais disputado do Brasil”. “É um privilégio ter esses artistas como referência e ser influenciado por eles. Estou sempre aprendendo e, com grande alegria, tenho a oportunidade agora de colocar tudo isso em prática no álbum Caroá”, conclui.
Dentre os convidados que participam do disco estão o saxonfonista Zé Nogueira (“Impressão Perfume”); o músico, cantor e compositor Sérgio Santos (“Santos de Casa”); a cantora Mônica Salmaso (“Lugar sem tempo”) e o cantor e compositor Zé Renato (“Miguilim”). Os três últimos participam em vocalizes nos temas inéditos.
“Quando entrei no estúdio para gravar, ao lado desses músicos incríveis – Chico Pinheiro na guitarra, Hélio Alves no piano, Tutty Moreno na bateria e Marcelo Costa na percussão -, aos poucos fui percebendo a necessidade da participação vocal em algumas músicas. Para minha sorte, pude contar com esses grandes cantores e músicos”, comemora o baixista. Tutty Moreno, inclusive, dá nome ao terceiro tema do álbum.
Com mais de 350 gravações no currículo, em álbuns de outros compositores e intérpretes, Jorge Helder revela em “Caroá” a sua novíssima safra como compositor.